A pesquisa levanta questões éticas sobre os limites da vida e da ciência
A ciência avança a passos largos e traz descobertas
incríveis para o conhecimento humano. Uma delas é a criação dos primeiros
modelos sintéticos de embriões humanos a partir de células-tronco, sem a
necessidade de óvulos ou espermatozoides. Essa técnica inovadora pode trazer
benefícios para o estudo do desenvolvimento embrionário e das causas de doenças
genéticas e abortos espontâneos. Mas também levanta questões éticas sobre os
limites da vida e da ciência. Neste artigo, você vai conhecer mais sobre essa
pesquisa e a analogia com a ética da inteligência artificial.
imagem: I.A em Foco |
Como foram criados os modelos sintéticos de embriões humanos?
Os modelos sintéticos de embriões humanos foram criados por uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos e do Reino Unido, liderada pela Dra. Magdalena Zernicka-Goetz, professora de Biologia e Engenharia Biológica da CalTech e da Universidade de Cambridge. Ela apresentou o trabalho na reunião anual da Sociedade Internacional para Pesquisa com Células-Tronco em Boston, em junho de 2023.
Os pesquisadores utilizaram células-tronco embrionárias humanas individuais que foram forçadas a se desenvolver em três camadas distintas de tecido. Essas camadas incluem células que normalmente desenvolveriam um saco vitelino, uma placenta e o próprio embrião. Além disso, as estruturas embrionárias criadas pelo laboratório são as primeiras a ter células germinativas que se desenvolverão em óvulos e espermatozoides.
As estruturas embrionárias foram cultivadas até um pouco além do equivalente a 14 dias do desenvolvimento humano, que é o limite legal para a pesquisa com embriões humanos de fertilização in vitro (FIV) em muitos países. Nessa fase, o embrião ainda não tem coração pulsante, intestino ou começo de cérebro, mas o modelo mostrou a presença das células primordiais que são as precursoras do óvulo e do esperma.
Quais são os benefícios dessa pesquisa?
A criação dos modelos sintéticos de embriões humanos pode trazer benefícios para o avanço do conhecimento científico sobre o desenvolvimento embrionário e as causas de doenças genéticas e abortos espontâneos. Segundo a Dra. Zernicka-Goetz, essa pesquisa pode ajudar a
entender melhor os mecanismos moleculares e celulares que regulam os primeiros
estágios da vida humana e a identificar os fatores que levam à falha da
implantação ou à perda gestacional precoce.
Além disso, a técnica pode oferecer uma alternativa ética para a pesquisa com embriões humanos de FIV, que depende da doação de óvulos e espermatozoides e tem uma limitação de material disponível. Os modelos sintéticos de embriões humanos podem ser produzidos em larga escala a partir de células-tronco e não envolvem a criação ou a destruição de um potencial ser humano.
imagem: Revista Exame |
Quais são os desafios éticos dessa pesquisa?
A criação dos modelos sintéticos de embriões humanos também
levanta desafios éticos sobre os limites da vida e da ciência. Ainda não se
sabe se essas estruturas embrionárias teriam condições de continuar
amadurecendo para além dos primeiros estágios de desenvolvimento e chegar à
criação de órgãos ou até mesmo de um ser vivo. Também não se sabe se elas
teriam algum tipo de sensibilidade ou consciência.
Essas questões colocam em xeque a definição de embrião
humano e os critérios para determinar o início e o fim da vida. Além disso, há
uma lacuna legal e regulatória sobre a criação e o uso desses modelos
sintéticos de embriões humanos, que não se enquadram nas normas existentes para
a pesquisa com embriões humanos de FIV. Há uma necessidade urgente de estabelecer uma estrutura ética e legal que regule esse campo emergente da ciência e garanta o respeito aos princípios da dignidade humana, da responsabilidade social e da precaução.
Qual é a analogia com a ética da inteligência artificial?
A criação dos modelos sintéticos de embriões humanos pode
ser comparada com a ética da inteligência artificial, que é um ramo da ética
que se dedica aos estudos dos assuntos morais relacionados às entidades que
possuem inteligência artificial e robôs. Assim como os modelos sintéticos de
embriões humanos, a inteligência artificial também pode trazer benefícios e
desafios para a humanidade, dependendo de como é desenvolvida e utilizada.
Um dos benefícios da inteligência artificial é que ela pode
auxiliar os seres humanos em diversas tarefas que exigem velocidade, precisão,
complexidade e criatividade. A inteligência artificial pode contribuir para o
avanço da ciência, da tecnologia, da educação, da saúde, da comunicação, da
economia e do trabalho. Ela também pode ajudar a resolver problemas globais
como a pobreza, a fome, as mudanças climáticas e as pandemias.
Um dos desafios da inteligência artificial é que ela pode
gerar riscos éticos como o viés, a discriminação, a invasão de privacidade, a
perda de autonomia, a manipulação, a responsabilidade e a segurança. A
inteligência artificial pode reproduzir e amplificar os preconceitos humanos
presentes nos dados utilizados para treinar os algoritmos. Ela também pode
afetar os direitos humanos, a dignidade humana, a liberdade humana e o
bem-estar humano.
imagem: Brasil Escola |
Por isso, é necessário estabelecer princípios e normas éticas para orientar o desenvolvimento e o uso da inteligência artificial de forma responsável, transparente, justa e humana. A Unesco adotou em 2021 uma Recomendação sobre a Ética da Inteligência Artificial que visa promover uma abordagem baseada nos direitos humanos e nos valores universais para essa tecnologia. Essa recomendação é um marco histórico para garantir que a inteligência artificial seja usada apenas para fins pacíficos e que o aspecto humano seja mantido.
Conclusão do artigo
Os modelos sintéticos de embriões humanos são uma descoberta científica impressionante que pode trazer benefícios para o estudo do desenvolvimento embrionário e das causas de doenças genéticas e abortos espontâneos. Mas também levanta desafios éticos sobre os limites da vida e da ciência. Esses desafios são semelhantes aos que enfrentamos com a inteligência artificial, outra tecnologia que pode trazer benefícios e riscos para a humanidade. Por isso, é necessário estabelecer uma estrutura ética e legal que regule esses campos emergentes da ciência e garanta o respeito aos direitos humanos, à dignidade humana e ao bem-estar humano.
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